A bagagem política de uma charge - Entrevista com Sávio Garcia.
- julio torres
- 25 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2020

É muito provável que você já tenha visto alguma charge ao ler um jornal ou revista. Mais do que nunca, hoje em dia, as charges tem preenchido cada vez mais os espaços de jornais brasileiros devido ao avanço do autoritarismo no Brasil e pelas sequências de escândalos políticos.
A charge para quem não sabe, é um gênero textual que passa mensagens por meio da associação de imagens e texto, ou seja, de linguagem verbal e não verbal. A palavra é de origem francesa e significa carga, remetendo à característica principal de uma charge: o exagero. Esse exagero pode ser em cima de um fato ou de uma pessoa, tornando-a uma caricatura, por exemplo. A ilustração tem como objetivo usar a sátira para criticar alguém ou um determinado acontecimento, portanto, está sempre relacionada a um contexto político, cultural, social ou histórico.
Desde o surgimento das charges, no começo do século 19, elas já eram carregadas de críticas sociais e desempenhavam o papel de denunciadoras de mandos e desmandos de governos considerados tiranos.
Hoje em dia o objetivo das charges não é diferente. Chamamos o chargista Sávio Garcia para falar um pouco mais sobre a importância das charges no Brasil, e além disso, expor sua visão como chargista.
Acompanhe agora a entrevista com Sávio Garcia:
Entre Balões: No século 21, o que mudou na forma de fazer humor político no Brasil?
Sávio Garcia: Acho que a única coisa que muda no humor político é o que está para iniciar, trazendo fatos diferentes do que se havia vivido. Um exemplo com o governo Bolsonaro, onde vem acontecendo atrocidades contra a população, isso faz com que a charge se torne mais agressiva pela situação dada. Em uns outros momentos da história essa provocação era amenizada.

EB: O que não mudou?
SG: Os recursos de alinhar o desenho à uma ligação cotidiana, uma conexão entre metáforas, representação e uma imagem ou talvez traduzir problemas complexos para um simples desenho e que se torna legível a qualquer pessoa leiga no assunto. Talvez se tornam características marcantes e que sempre foram adotadas ao estilo da charge.
EB: Como a charge brasileira se comportou em momentos de autoritarismo?
SG: Apesar de não viver esse tempo, mas lendo relatos de várias pessoas que viveram esse momento, mostraram que tentavam utilizar recursos que burlassem a censura em todos os segmentos artísticos. As palavras de Laerte, um dos artistas mais importante da contemporaneidade, mostra que esse artificio se tornou mais agudo em momentos de autoritarismo que segundo ela deixou marcas, mesmo quando o autoritarismo dava sinais de enfraquecimento no governo Geisel.
EB: Como a charge reage diante do atual governo brasileiro?
SG: Bom, costumo brincar com meus colegas que a situação que a gente vive é o melhor contexto para criar as charges. Com o governo do Bolsonaro, a gente não precisa nem elaborar a piada, os próprios aliados do atual governo já deixam sua piada pronta, como é o caso da Regina Duarte e do próprio Bolsonaro. Então acho que a partir daí as charges tornaram-se mais agressivas e provocantes e faz com que os leitores pensem de forma mais sólida e reflexiva.

EB: De que forma a charge ajuda o público a refletir sobre a situação política?
SG: Com um desenho simples e com o avanço da divulgação dos trabalhos, é fácil mostrar o que aquele desenho quer mostrar e em alguns casos comove o leitor. Os chargistas e cartunistas precisam trabalhar em cima de ideias que mostram o problema sob outra perspectiva de fácil entendimento, isso é capaz de mostrar o que realmente está acontecendo e formar uma estrutura reflexiva.

EB: como a charge política mudou com a internet e com a disseminação de memes?
SG: A charge talvez tenha mudado no aspecto técnico na internet , ou seja, com disseminação e divulgação de forma mais rápida, ultrapassando essa fronteira de ser apenas um artigo de opinião em um jornal ou revista.
Os memes julgo eu ser um derivativo das charges com aspectos bem diferentes, algo mais popular na internet, se tornando um produto cultural da web de amplo acesso. Eu não consigo ver essa interferência seja ela de forma positiva ou negativa de memes nas charges.
EB: Quais características marcam a linguagem da charge?
SG: Ao analisarmos uma charge, a gente tem a impressão que é apenas uma piada qualquer, mas se houver uma percepção mais densa a gente consegue notar inúmeras informações construídas a partir de um processo intertextual que força o leitor a pensar e construir analogias, tornando características textuais bem comprometidas.
A charge traz essa crítica mais profunda com apenas alguns traços e com uma linguagem mais simples e cotidiana fazendo o leitor se aproximar de uma forma mais rápida do cenário atual.

EB: Como funciona o seu processo criativo?
SG:
Acompanhe o trabalho de Sávio através do perfil no Instagram: https://instagram.com/saviochargista?igshid=100ft0m7cxmju
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